Barceló de Carvalho nasceu em Kipiri, na província do Bengo, a norte de Luanda, em Angola Portuguesa.
A sua infância foi passada em bairros como os Coqueiros, Imgombotas, Bairro Operário, Rangel, e no Marçal. Aí vive-se um ambiente intimista de preservação das músicas e tradições angolanas, marginalizadas pela dominação colonialista presente na época. O folclore dos musseques (bairros pobres) cedo fascinou o pequeno Barceló de Carvalho e por isso começou a frequentar e a participar das turmas dos bairros típicos de Angola, onde iniciou a sua actividade musical. Foi no bairro do Marçal que fundou o grupo “Kissueia”. Barceló resolve criar o seu próprio estilo musical, afirmando a especificidade da cultura angolana, numa época muito conturbada.
Bonga é produto de uma geração aguerrida e marginalizada que resiste à aculturação da sociedade marginal através do respeito pela música tradicional de Angola. A cultura angolana era dominada pela colonização portuguesa de então (Estado Novo), daí que tanto a língua como a música tradicional fossem discriminadas e impedidas de se manifestar em plenitude.
Barceló de Carvalho sempre se sentiu atraído pelo atletismo. Tudo começou ainda muito jovem quando revelou perante os seus amigos do bairro ser o mais rápido nas corridas e nas fugas. Depois começou oficialmente a correr no S. Paulo do Bairro Operário, rotulado pejorativamente como o “club dos pretos”. Ingressou no Clube Atlético de Luanda.
Em 1966, com 23 anos de idade, depois de ter alcançado os maiores títulos de Angola em 100, 200, e 400m, a sua entrada em Portugal dá-se aquando de um convite do Sport Lisboa e Benfica, que se deveu às suas múltiplas vitórias nos campeonatos em Angola. O objectivo deste convite é a prática semi-profissional de atletismo. É entre 1966 e 1972 que Barceló de Carvalho atinge por sete vezes o estatuto de campeão e permanente recordista de atletismo: onze internacionalizações nos 400 metros, nos 200 e 400 metros na taça da Europa de 1967, nove nos 4 x 400 metros e seis nos 200 metros, além de várias vitórias em torneios, tal como o prémio de Viseu em 1968 (400 metros), o Torneio Toddy em 1969 (100 metros), o II Grande Prémio das Festas de Santo António.
Barcelo de Carvalho é já um nacionalista convicto. Portugal era então regido pela política repressiva e fascista de Salazar e Caetano. Com o início dos movimentos a favor da independência das ex-colónias portuguesas, Barceló de Carvalho usa a sua liberdade de movimentos proporcionada pelo seu estatuto de atleta recordista para passar mensagens entre compatriotas que lutam pela independência em Angola. Por este motivo é obrigado a fugir de Portugal para a Países Baixos, uma vez que começa a ter problemas com a polícia do Estado-Novo, a Pide.
Em 1972, nos Países Baixos lança o seu primeiro álbum “Angola 72”, onde canta a revolução e o amor à pátria. É por esta altura que Barceló de Carvalho passa a chamar-se Bonga. Adopta um nome africano que significa “aquele que vê, aquele que está à frente e em constante movimento”.
Barceló de Carvalho está consciente de que a cultura e a música africana ainda não é respeitada enquanto tal no mundo dos europeus, ditos civilizados. É esse o fundamento de uma consciência da necessidade da independência, da libertação, do povo e da pátria, tornando-se uma voz e o rosto da angolanidade no mundo. Os anos 70 são os tempos da arte-combate, onde estão espelhadas nobres e profundas convicções e aspirações a favor das ex-colónias portuguesas e contra o colonialismo. “Angola 72” está por esta altura proibido em Portugal e Angola, pela sua ressonância política e consciência crítica.
Barceló de Carvalho actua pela primeira vez nos Estados Unidos em 1973, aquando da celebração da independência da Guiné-Bissau, integrado num espectáculo de homenagem à cultura lusófona. Eis que surge a Dipanda (independência) em Angola e com ela Bonga atinge o estatuto simbólico de embaixador da música angolana. Dá-se o 25 de Abril e Bonga lança “Angola 74”. Em África as independências sucedem-se. Bonga está em Paris e regista no consulado português em França o seu nome artístico,
Os anos 80 são tempos de apogeu internacional, comercial e cultural: é o primeiro artista africano a actuar a solo, dois dias consecutivos no Coliseu dos Recreios, símbolo da música portuguesa, é o primeiro africano Disco de Ouro e de Platina em Portugal. O seu sucesso estende-se para lá das fronteiras lusófonas e Barceló de Carvalho actua no Apolo em Harlem, no S.O.B. de Nova Iorque; no Olympia de Paris, na Suíça, no Canadá, nas Antilhas e em Macau. O seu sucesso é resultado de um trabalho árduo, intensivo e metódico e de uma imaginação criativa que caracteriza toda a sua carreira.
Em 1988, Barceló de Carvalho regressa a Portugal, dezassete anos depois de ter fugido clandestinamente. Bonga regressa não como recordista do atletismo, mas como recordista de vendas e popularidade, que canta música de intervenção, revolucionaria e carismática. Um dos motivos pelos quais Barcelo de Carvalho não regressa definitivamente a Angola é porque a independência pós-colonial desintegrou-se em corrupção, tirania e guerra. Assim sendo, Barceló de Carvalho manteve uma aguda consciência crítica relativamente aos líderes políticos de ambas as partes.
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